quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Tímida, porém sincera.

Há algumas semanas atrás eu recebi uma mensagem no meu e-mail me informando de uma entrevista de emprego numa fábrica de estofamento de cadeiras. Eu retornei o e-mail e no dia seguinte me chamaram para fazer a entrevista.

Chegando lá, havia mais 5 mulheres para serem entrevistadas também. No começo, era uma entrevista coletiva, como um bate-papo entre entrevistador e entrevistadas. Enquanto o "poderoso chefão" nos entrevistava eu ia observando o ambiente...

1ª observação do dia: não haviam janelas.
Isso me incomodou um pouco, já que eu gosto muito de ver que existe um mundo do lado de fora do trabalho.

Depois disso ele nos informou o salário e as horas de trabalho o que me levou a 2ª observação: parece que ninguém avisou a ele que a época da escravidão já acabou. A não ser que eu tenha me teletransportado para o passado e não estava sabendo.
Papo vai, papo vem, até que chegou a hora de mostrar o ambiente de trabalho. Tinha duas senhoras e um senhor trabalhando. Uma delas nos mostrou como se estofava as cadeiras.

3ª observação: êita trabalhinho perigoso!
Para completar, o "chefe" disse que não poderíamos conversar, porque isso iria nos distraír e causar algum acidente. Bom, tudo bem que eu sou SUPERHIPERMEGAULTRATÍMIDA e que conversar com pessoas desconhecidas definitivamente não é o meu forte, mas isso significava que eu perderia a oportunidade de fazer amizades num trabalho chato, escondido, que paga mal e ainda é perigoso.

E para rechear o irrecheável (essa palavra existe?) ele disse que estava precisando de mulheres na empresa, porque acredita que as mulheres são mais caprichosas e percebem melhor os defeitos e busca corrigí-los (sei...).
De acordo com mais algumas observações eu pude perceber que o que acontecia na empresa é que havia uma escassez de mulheres, já que havia maior quantidade de homens. E de todas essas observações eu cheguei à conclusão de que não era um bom emprego. Não era um emprego que respeita o trabalhador e além de tudo era pior do que um mausoléu.


Depois de mostrar os "aposentos", era chegada a hora da entrevista individual. E o pior de tudo: eu era a última a ser entrevistada. Tem coisa pior do que ser a última? A gente fica contando as horas, se perguntando "O que será que ele vai perguntar?" ... "espero que eu saiba responder"...
Para piorar a minha situação, algumas das entrevistadas demoravam meio século pra sair da sala, o que me deixava mais nervosa "O que será que está acontecendo?"...

Trinta minutos depois... chegou a minha hora. Uma coisa eu já tinha em mente: eu não queria aquele emprego de jeito nenhum. Até pensei comigo "ele que não invente de me contratar." Chegando na sala, (ahh, esqueci de falar a parte em que junto com ele estava uma assistente que posteriormente faria as entrevistas no lugar dele) ele estava junto com a assistente e começou a fazer as perguntas que a maioria faz "o que você tem para oferecer para a empresa?" Sinceramente essa é a pergunta mais idiota de se fazer (e a mais difícil de responder :D), porque eu poderia dizer simplesmente "ué, o meu trabalho." e ponto, né? Afinal, eu estava lá para trabalhar, o que ele queria mais?! Mas não, eu não disse isso. Essa eu deixei passar...

Até que chegou a pergunta que eu tanto esperava pra terminar logo com aquele tormento... "o que você achou da empresa?" eu respirei fundo, afinal eu tinha que dizer o que eu achava... e disse-lhe de um modo que até agora eu nem acredito... "Eu acho o lugar muito fechado e o trabalho muito perigoso." Tudo numa frase só e sem rodeios. A assistente deu uma risadinha como se dissesse "ha ha, eu também acho isso!" e o "chefe" meio que sem acreditar no que eu tinha dito perguntou "o que é que você acha fechado? O ambiente? Você tem claustrofobia?"  eu disse "é isso mesmo". Na verdade, nessa hora eu já estava quase me agaixando debaixo da mesa, achando que eu seria dilacerada naquela hora por dizer o que eu pensava... e foi à toa, porque ele simplesmente me deu um cartão e disse "Olha! Eu te dou esse cartão, caso você se decida, porque não é bom que você trabalhe num lugar onde não se sinta bem. Aí você liga se quiser, tudo bem?"... (o patrão da minha mãe disse que me diria "o que você está fazendo aqui então?" ha ha)

Claro que eu não liguei.

Algumas pessoas pensam que por sermos tímidos ou por estarmos precisando de dinheiro, que podem se aproveitar disso para nos oferecer trabalho escravo. As outras entrevistadas, eram senhoras de idade e que estavam precisando mais do que eu; aluguéis altíssimos para pagar. E eu lhes digo que essa empresa não estava pagando nem a metade do que elas realmente precisavam para manter a casa e a si mesmas. Trabalho escravo, NÃO! Não comigo. Eu não sou trouxa. Sou tímida e só.

Eu acho que esse foi um dos momentos mais difíceis de se mostrar a sinceridade. Na verdade, eu não poderia dizer que tinha adorado o emprego e correr o risco de ser contratada, sendo que essa não era a verdade. Como diz uma frase conhecida "A verdade vos libertará." e me libertou do mausoléu que eu estava prestes a enfrentar caso eu não dissesse o que sentia...

3 comentários:

  1. Incrível uma história dessas no ano de 2010...ainda existe gente sem noção no mundo ñ é mesmo...vc foi muito corajosa eu nem isso conseguiria falar...Parabéns pela atitude

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  2. Nooooooooooooooossa, Kelly, vc é muuuuuuuuuito engraçada, tô até agora rindo das suas tiradas geniais. Parabéns. Putz, achei muito bom o que você escreveu sobre a gente ser tímido, e só, mas merecer ser bem tratado, é isso que eu sempre senti mas nunca soube dizer até hoje. Virei seu fã. Parabéns! Tímido pra Dedéu.

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  3. Ilma
    Pois é. Quando a gente pensa que acabou, na verdade eles só "enfeitaram" um pouco as coisas pra enganar as pessoas.
    Muito obrigada.

    Tímido pra Dedéu
    Ha ha, muito obrigada. Que bom que eu pude por em palavras o que você não conseguia dizer. Fico feliz por isso.

    Um abraço aos dois! :D

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